A minha paixão sempre foram os romances, dos tempos medievais e amantes apaixonados. Por isso, quando comecei a escrever, não foi dificil escolher o tema. É percisamente sobre isso que trata esta história. Aqui, recuo à era medieval e vou contar o romance de dois jovens que, tendo o caminho cheio de obstáculos, se sacrificam até ao fim pelas pessoas que amam.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Capítulo 3

Saímos para o corredor. Lane não falou e, durante algum tempo, eu limitei-me a segui-lo, sem interromper o silêncio. O meu cérebro estava demasiado ensonado para inventar uma qualquer trivialidade sobre que conversar com o meu primo. E, de qualquer maneira, eu tinha coisas em que pensar.
Se eu ainda estivesse em casa, aquele dia seria uma grande animação. A minha mãe, com a ajuda da nossa cozinheira, faria doces e bolos, tartes e biscoitos. Faríamos uma pequena festa, com algumas amigas minhas que eu já há muito conhecia. Os meus pais fariam boa cara todo o dia, e abriria as minhas prendas, como era tradição, no final da noite, antes de me ir deitar. Naquela casa estranha, apenas recebera os parabéns. Por enquanto.
Àquelas pequenas lembranças de casa, as lágrimas picaram-me os olhos novamente e eu senti uma pontada lancinante de dor. Os meus pais tinham morrido há pouco tempo, e a sua perda era uma ferida que ainda não cicatrizara.
Virámos para a esquerda, e o corredor mudou. Agora era muito mais largo, embora não tão comprido. Uma enorme carpete felpuda cobria quase todo o chão. Ao fundo, uma janela grande e em arco mostrava mais um jardim. O sol já começara a despontar, pelo que o céu apresentava agora uma tonalidade cinzento claro, meio azulado.
Paramos na 1ª porta do lado esquerdo. Aquela zona estava em silêncio, apesar de me terem dito que Ever ficaria do outro lado do corredor. Lane virou-se para mim, estendendo-me um lenço branco. Um pouco embaraçada por ter dado parte de fraca em frente ao meu primo, e consciente que chorava mesmo a sério, aceitei o lenço.
-Custa um pouco a principio. Eu sei. – afirmou ele – Mas passado algum tempo, melhora.
Assenti com a cabeça, lembrando-me que também ele perdera a mãe e que, nessa altura, ele era bastante mais novo do que eu era agora. Mas mesmo assim, ele não perdera os dois ao mesmo tempo.
Ele abriu a porta do meu quarto. Era grande, mas tinha pouca mobília: uma cama grande, um armário alto e largo, um espelho na parede e uma poltrona de veludo vermelho. Como a luz que entrava pela janela ainda não era suficiente para iluminar o quarto, havia pequenas lamparinas acesas nas paredes. Apenas algumas das minhas coisas estavam ali. Ia perguntar-lhe porquê, mas não foi preciso:
-Este não será mesmo o teu quarto. Só ficarás aqui até Ever se habituar a casa. Daqui a algumas semanas, mudarás lá para cima.
Assenti, algo preocupada. Como reagiria Ever àquela situação?
-Arruma as tuas coisas. – disse-me ainda ele – Daqui a algum tempo, virei buscar-te. Para te mostrar a casa. O meu pai pediu-me também que te apresentasse aos meus primos. Por isso, lamento, mas não vais ter muito tempo para descansar.
Eu não me importei. Do que eu precisava mesmo era de manter a mente ocupada. Ele saiu do quarto, e fechou a porta atrás de si. Naquele momento não me apetecia arrumar as coisas, pelo que me limitei a sentar-me na cama, olhando para o chão de mosaicos impecavelmente limpos. Em minha casa, também o chão tinha mosaicos coloridos...
Antes que me apercebesse do que estava a acontecer, dei por mim deitada a chorar copiosamente. Tinha tantas saudades de casa e dos meus pais! Chorei durante muito tempo. Chorei até me doerem os olhos e a barriga. Chorei até não ter mais lágrimas, e só depois me voltei a endireitar. O sol já nascera, e entrava suavemente pela janela, parcialmente filtrado pelas cortinas. Lembrei-me que o meu pai também gostava muito de ver os raios do sol entrar pelas janelas de manhã...
Receando outro ataque de choro compulsivo, levantei-me para apagar as lamparinas. Depois, encontrando uma bacia com água, lavei a cara e enxuguei-a com uma toalha espessa e suave. Abri as cortinas, deixando o sol entrar a jorros no quarto, sentindo os raios quentes na pele. Olhei-me ao espelho. Com a cara lavada, já não se notava que estivera a chorar. No entanto, os meus cabelos estavam um verdadeiro terror.
Troquei de vestido, para um que era um pouco mais severo. Era negro, de mangas compridas e gola alta, bastante simples; o meu luto continuava. Escovei os cabelos e amarrei-os, com uma fita negra que pertencera à minha mãe. Normalmente era ela que me penteava todas as manhãs. Era o nosso momento diário.
Sentei-me novamente na cama, esperando. Na minha cabeça sucediam-se imagens cada vez mais estranhas, misturando-se lembranças de casa com medos do futuro, num emaranhado de cores...
Acordei com alguém a bater à porta. Nem dera por ter adormecido, mas o sol não subira quase nada, pelo que não devia ter dormido muito. Olhei-me rapidamente ao espelho. O cabelo não estava fora do lugar, e não tinha cara de quem estivera a dormir. Dirigindo-me para a porta, estiquei o vestido um pouco, suspirando.
Lane também tinha trocado de roupa: já não usava as mesmas calças nem a mesma camisa, embora ambas continuassem a ser negras, contrastando drasticamente com a pele pálida. Pensei se toda aquela roupa preta não seria um sinal de respeito pare com meus pais. Ou talvez para comigo.
Olhou para mim de alto a baixo, reparando com certeza no meu vestido. Depois estendeu-me o braço. Aceitei-o em silêncio, fechando atrás de mim a porta do quarto.
-Demorei-me mais do que esperava. Os meus primos já estão quase a chegar. Teremos de deixar a visita da casa para mais tarde. – comentou ele.
-Por mim está bem. – respondi eu. Já conhecia aquela casa: muitas vezes tinha percorrido os seus corredores, e seria apenas uma questão de tempo até relembrar todos os caminhos que teria de percorrer, enquanto aquele fosse o meu... lar. Custou-me dizer a palavra, mesmo na minha mente.
Saímos para o exterior por uma porta traseira. Aquela era, de toda a propriedade, a minha zona favorita: os jardins. Eram muitos, estavam bem arranjados, e as flores eram coloridas. Lane encaminhou-me por um caminho de que eu não me lembrava, e que foi dar aos estábulos. Vários criados atarefavam-se em volta de três cavalos, todos de raça, muito belos. Os respectivos donos estavam um pouco afastados, sentados num banco de pedra. Quando nos viram, levantaram-se e dirigiram-se para nós. Ambos olhavam para mim, com surpresa. Um deles, o do meio, mais alto, perguntou:
-Caramba, Lane! Tanto preto... Quem é que morreu?
Os meus pais”, pensei eu, de mim para mim. Lane olhou para ele, com uma expressão estranha no rosto. Depois disse:
-Os pais de Eleanor.
A reacção dos outros foi um pouco estranha. O rapaz que falara corou um pouco, e todos olharam directamente para mim, com expressões entre o pesar e a curiosidade pura estampados no rosto. Tentei evitar o seu olhar.
-Richard. Damien. Cory. Esta é a minha prima. – apresentou Lane. Inclinei um pouco a cabeça, e eles imitaram-me. Observei-os disfarçadamente.
O rapaz que falara tinha cabelos pretos e ondulados, um pouco compridos e os olhos castanhos, grandes e em forma de amêndoa. A pele pálida era parecida com a de Lane. O rapaz à sua esquerda também tinha os olhos castanhos. Era apenas um pouco mais alto que eu, tinha cabelos castanhos e a pele morena. Era parecido com o terceiro rapaz, que era meio palmo mais alto que eu. Os olhos e a pele eram iguais, mas os cabelos eram um pouco mais curtos.
-Peço desculpa. Não sabia. O meu nome é Richard. – disse o que tinha falado.
-Eu sou Damien. – acrescentou o da esquerda, o mais baixo de todos.
-E eu sou Cory. – disse o último.
-Eleanor e a irmã, Ever, terão de ficar a viver comigo e com o meu pai. Esta vai ser a sua casa. E gostaria que a considerassem como vossa prima. – explicou Lane, começando a andar. Ainda não me largara o braço. Os outros 3 não responderam, mas eu ouvi-os a seguirem-nos.
Lane foi conversando com eles, à medida que nos íamos encaminhando para dentro. Eu mantive-me em silêncio. Mais uma vez, a menção aos meus pais fora como um dedo na ferida. No entanto, não tinha muito por onde escapar. Eu continuava de braço dado a Lane, e com aqueles visitantes ali, não podia simplesmente ir embora: eles tinham-nos alcançado, e agora eu estava entre Lane e Richard. Cory estava do outro lado de Richard, e Damien depois de Lane. Tinha que me manter forte, além de que não queria dar parte de fraca em frente daqueles desconhecidos. Por isso tentei manter-me atenta à sua conversa.
-Quanto tempo vão ficar cá? – perguntava Lane aos seus primos.
-Ainda por algum tempo. – respondeu Cory.
-Infelizmente, os motivos que nos trazem cá não são os mais agradáveis. – acrescentou Richard, com um ar misterioso na cara.
-Consta que todos os Chefes Tribais de Kyrion estão a juntar as suas tropas. Parece que estão a preparar um ataque massivo a Arkenland. – desta vez fora Damien que falara, com uma nota de relutância na voz.
-Daqui a alguns dias também o nosso pai estará aqui. Assim como Lord Hugh. Os três partirão juntos para as Montanhas Negras, juntamente com as tropas. – continuou Cory, olhando desconfiado de mim para Lane. -Leanne também vem, Lane. Com Lord Hugh. E com Karolline.
Lane assentiu, mantendo a expressão tranquila e impassível. No entanto, senti o seu punho cerrar-se um pouco em volta do meu braço. Conduziu-nos até aquila que eu me lembrava ser a sala de refeições. Era uma sala enorme, de paredes azuis brilhantes e cortinados dourados a tapar as janelas largas que iluminavam a divisão. Ao centro, uma mesa rectangular, comprida e larga, de madeira brilhante, dominava quase toda a sala. Da porta de comunicação com a cozinha provinha um aroma delicioso, e o som de risos felizes, por entre os quais distingui a gargalhada alegre de Ever. Senti-me um pouco mais à-vontade sabendo que ela estava bem, e relaxei um pouco.
Lane pediu aos primos que esperassem e conduziu-me para a cozinha. Julian estava a conversar com Ever, que tinha no colo uma travessa com bolachas, as quais fumegavam, e das quais provinha o maravilhoso aroma que se espalhara pela sala de jantar.
As duas estavam num canto afastado da cozinha, pelo que não estavam a incomodar ninguém. De resto, a cozinha parecia bastante limpa e organizada... para cozinha, é claro. Dois fornos de lenha estavam encostados numa parede, ambos acesos. Por cima, pendurados na parede, estavam vários tachos, caçarolas e pequenas panelas, assim como múltiplos utensílios de cozinha. Uma mesa estreita mas comprida no centro da divisão suportava várias travessas e taças de levar à mesa. Do outro lado da cozinha, numa espécie de pequena dispensa, pendiam chouriços, alhos e cebolas do tecto. Em pequenas prateleiras estavam alguns ovos, um presunto, pães compridos e outros alimentos.
Enquanto absorvia o que via, reparando na enorme variedade de cores e aromas que se espalhavam no ar, Lane dava instruções numa voz rápida e directa a uma das cozinheiras, uma mulher gorda e de cabelos negros que me sorriu simpaticamente. A cara vermelha iluminou-se com este gesto, mas logo voltou ao trabalho. Entretanto, Ever aproximara-se de mim, seguida por Julian, e estendeu-me uma bolacha da travessa:
- Fomos eu e a Julian que os fizemos! Prova, Nor, estão óptimos!
Ever tratava-me por Nor desde que era pequena, pois até aos 3 anos não conseguia dizer o meu nome. Eu sorri e provei a bolacha. Era muito boa, tinha um ligeiro travo a canela, mas estavam muito quentes, pelo que senti as lágrimas picar-me os olhos novamente.
-Estão óptimas Ever! – elogiei eu, sentindo no entanto a voz abafada e a garganta a arder. Num momento, o sorriso de Ever esmoreceu um pouco, e no momento a seguir, Lane já me estendia um copo cheio de água que eu bebi de um trago, aliviada. Agradeci-lhe num murmúrio, enquanto Ever se ria novamente, provavelmente da minha cara vermelha e afogueada.
- Vamos para a mesa daqui a pouco tempo. – disse-me Lane – Leva a Ever a trocar de roupa e depois volta.
Achei aquilo bastante ofensivo. As palavras que escolhera e o tom duro com que as proferira soara como se me estivesse a dar uma ordem. Mas encolhi os ombros, peguei na mão de Ever e saí da cozinha, fazendo um esforço para não me perder no caminho para o meu quarto.

2 comentários:

  1. adoro adoro adoro!!
    escreves TAO bem!! *.*
    quem me dera escrever assim... ^.^
    quando escreves mais? quero saber o que acontece... :P
    ESTA MESMO MT BOM

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